segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O abandono da Linha do Algarve


O volume de tráfego nesta linha situa-se na ordem dos 900 mil de passageiros/ano, número que representa uma percentagem ínfima da deslocação, por todos os meios de transporte possíveis, de pessoas na sua área de influência densamente povoada.

O Algarve é o cartão de visita de Portugal para muitos turistas da Europa que anualmente  aí vêm passar férias, aproveitando o calor do seu esplendoroso sol, a amenidade do seu clima e a tepidez da água nas suas extensa praias de areia branca. Não obstante, em matéria de transporte ferroviário o país continua apenas a ter para lhes oferecer, ao longo da faixa de todo o litoral algarvio, uma solução desconfortável, lenta, degradada, e arcaica, como só já existe em países do 3.º mundo. Basta dizer que o último investimento de algum significado nesta Linha do Algarve foi feito, no troço entre Faro e Olhão, em 1992.



Com uma Linha a que nos últimos anos apenas se foram pondo remendos, não é de admirar que as velhas automotoras diesel, com mais de 30 anos, para fazer o percurso de 139,5 km da sua extensão, entre Vila Real de Santo António e Lagos, levem aproximadamente 3 horas a uma velocidade média que ronda uns incríveis 50 Kms/hora. Quando para o mesmo percurso em automóvel, com o trânsito por vezes congestionado em vários troços, se leva cerca de metade tempo.

Como seria de esperar a Linha nestas condições nunca poderia ter uma exploração comercial rentável. Mas a questão está longe de se esgotar tão linearmente com a constatação dos seus actuais prejuízos. A questão a colocar é que, com o actual estado de abandono e degradação, o caminho de ferro na Linha do Algarve, sendo uma infra-estrutura básica com naturais potencialidades para o desenvolvimento da maior região turística do país, constitui um factor endógeno quase completamente desperdiçado.

Com efeito, o seu avançado estado de decadência, quer ao nível do lamentável do estado da via, quer ao nível degradante das estações, quer ao nível do arqueológico estado da sinalização e das comunicações, são a prova mais que evidente, do alheamento, do desinteresse, do desinvestimento, da incúria, e do abandono a que foi votada a Linha do Algarve, especialmente nos últimos anos, pela gestão governativa do PS.

Nessas miseráveis condições de operação, de imobilismo e de decadência, não pode deixar de concluir-se que a gestão do transporte ferroviário no Algarve não cumpriu a sua missão. Não investiu, não inovou, não assumiu um papel estruturante, não alcançou uma visão de progresso. Pelo contrário, conformou-se, parou no tempo, regrediu e esteve aquém do que seria uma contribuição minimamente aceitável, como factor de desenvolvimento e atractividade turística duma região tão privilegiada por condições naturais. Por força duma gestão de curtos horizontes, ficou muito longe desse objectivo. Não contribuiu para o seu progresso, não favoreceu a sua imagem e não promoveu como devia a melhoria das condições sócio-económicas da região.

E como contra factos não há argumentos, basta ter presente que para resolver esse anacronismo ferroviário, não foram realizados quaisquer investimentos nos últimos quatro anos. Por enquanto, só um anúncio feito em Agosto, de que a REFER vai lançar (já lançou?) as empreitadas para beneficiar os pontos mais críticos da linha e substituir as travessas de madeira por travessas de betão. Só isso e só agora, em véspera de eleições.

É pouco. O Algarve precisa de mais. Precisa de um plano de modernização completo e integrado para uma nova Linha do Algarve, com duplicação da via e da sua electrificação, com nova sinalização, novos meios de segurança e de comunicação e de novo material circulante de tracção eléctrica. Porque o desenvolvimento sustentado de uma região não se promove só com artes do marketing, acrescentando apenas um “l” para dar à marca “All garve” uma sonoridade mais british.


Próximo tema:
A degradação da Linha de Cascais

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